Pouca gente de minha idade conhece Gonzaguinha. Não se trata de ser música antiga. Aqui na Paraíba mesmo, é mais fácil conhecerem o pai. Trata-se de ser música popular brasileira nem tão popular assim. O filme "Gonzaga - de Pai pra Filho" foi que, recentemente, ajudou o Brasil a redescobrir esse tal Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, cantor e compositor de sucessos, como E Vamos à Luta.
Eu me identifico muito com o estilo de Gonzaguinha. Como não poderia? E Vamos à Luta é de 1980 (álbum De Volta ao Começo), mas, no decorrer da ditadura militar, o filho (legítimo!) do Rei do Baião não demonstrou medo de fazer visitas ao DOPS. A sua carreira é marcada pelo posicionamento à esquerda e pelas convicções ideológicas. Como diria seu pai, Luizinho fazia era música de comunista.
E Vamos à Luta não é tão explícita, mas não foge à regra. A canção só poderia ser escrita por alguém como Gonzaguinha, que tanto se identificava e solidarizava com as manifestações e lutas populares. A música toda é um ode ao povo guerreiro, que luta e não se deixa abater.
A INTERPRETAÇÃO
Eu acredito é na rapaziada / que segue em frente e segura o rojão / eu ponho fé é na fé da moçada / que não foge da fera e enfrenta o leão
Há quem entenda que nesses versos, Gonzaguinha faz menção aos cordões de proteção, presentes nas passeatas e manifestações populares, à galera que sofre mais às pressões contrárias aos atos políticos e se mantem de pé. Faz sentido, mas eu prefiro acreditar que ele tá falando é do povo comum que batalha o pão pra botar na mesa todos os dias. E do povo fala com uma intimidade de dar inveja: a rapaziada, seus amigos, companheiros. Eu prefiro crer que a rapaziada é quem merece colher os louros de toda luta popular.
Eu vou à luta com essa juventude / que não corre da raia a troco de nada / eu vou no bloco dessa mocidade / que não tá na saudade e constrói a manhã desejada
Mais uma vez, dentre todos os brasileiros, dentre todas os grupos sociais, Gonzaguinha toma as dores da juventude lutadora. Aqui claramente há uma referência à resistência do movimento estudantil à repressão militar. Não que não haja antes, há aqui e há em toda música. Mas não entendam mal, não é uma canção sobre a ditadura militar. Como anteriormente já comentado, E Vamos à Luta não passa de uma grande homenagem ao povo que mesmo sofrido não se deixa abater, não se faz infeliz.
Aquele que sabe que é negro o coro da gente / e segura a batida da vida o ano inteiro / aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro / e apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
São interessantes esses versos por dois motivos. O primeiro, que apenas confirma o que toda a música diz, é a ideia de que deve-se buscar estar no meio dos mais prejudicados pelas mazelas do sistema. Já o segundo reside no fato de, em política, muito se falar de "vergonha de ser brasileiro", enquanto a canção prega exatamente o contrário: nada de vira-latismo, apesar de tudo, deve haver orgulho de ser quem é, inclusive de ser brasileiro.
Os próximos versos são marcados pela alegria de ser brasileiro e por elementos tipicamente nacionais, como a cerveja, o botequim, o pagode e a batucada. Tudo contribui para reforçar a ideia central da canção.
Aquele que sai da batalha / e entra num botequim / pede uma serva gelada / e agita na mesa logo uma batucada / aquele que manda um pagode / e sacode a poeira suada da luta / e faz a brincadeira / pois o resto é besteira
Nós estamos pela ai! É com essas palavras que o moleque Luizinho encerra a letra de E Vamos à Luta. É como se quisesse provar a quem houve que essa gente existe e que não pode ser esquecida. Aliás, off topic, a esquerda deveria levar o povo mais em consideração; deselitizar o debate político, que só tem razão de ser se for em função do povo. Pra isso tem que arregaçar as mangas e meter a mão na massa; largar de mão a universidade. Afinal, Frei Betto já diria: a cabeça pensa onde os pés pisam. Foi isso que em 1980 Gonzaguinha já havia entendido.
eu sou apaixonado por essa música e depois da sua interpretação dela,fiquei mais apaixonado ainda. obrigado!
ResponderExcluirOi, Wenderson.
ExcluirSomos dois apaixonados, então. Obrigada você por comentar! Um Beijão!
que bom que vc tornou à superfície depois de um longo mergulho em si mesma...ainda bem que não pude sentir saudades de vc, pois só agora que te descobri....cheguei no tempo certo....de apenas curtir seu talento e de desfrutar de sua ideologia esquerdista (espero que não tenha mudado de lado)...parabéns por tudo!
ResponderExcluirEspetacular a sua análise! Gostei muito e vou visitar mais vezes esta página. Parabéns e obrigado!
ResponderExcluirMassa.
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