O Segundo Sol

     Não me perguntem o porquê, mas sempre me foi muito complicado entender o Nando. Ocorre, no entanto, que, de uns tempos pra cá, eu simplesmente percebi que ele não passa de um grande romântico.
     Até mesmo O Segundo Sol, que tem (não nego!) sua face mais misteriosa, parece estar dentro dessa grande categoria na qual se incluem as músicas de amor. Com uma levada que nos remete ao fim do mundo, talvez Nando Reis nos queira dizer que o fim do mundo pode não ser algo tão ruim assim.

     Andei pesquisando sobre o que seria um segundo sol e acabei descobrindo que todos os sóis possuiriam uma espécie de "sol gêmeo", e que o nosso "segundo sol" chamaria-se Hercólubus. Se isso é verdade, eu tenho lá minhas dúvidas, mas é muito importante para o entender da canção sabê-lo.
     Segundo sol, sol duplo, sol gêmeo. Perceberam? Gêmeo, gêmea, alga gêmea. Numa visão romântica da música, é esse o segundo sol. A vida não é fácil pra ninguém, mas quando o segundo sol chegar!... Ah, quando chegar o segundo sol!
     Não que seja regra, mas a maioria da gente busca mesmo a felicidade em outra pessoa. E, mesmo quando tudo está mal, quando todos as órbitas de seus planetas estão desalinhadas, atribui a uma pessoa o caminho para a felicidade. E fica esperando ordinariamente.
     Enfim, vamos à primeira estrofe, o começo:

Quando o segundo sol chegar

para realinhar as órbitas dos planetas,

derrubando com assombro exemplar

o que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa.

     Se a gente considerar que o segundo sol é um homem ou uma mulher que chega na vida de uma pessoa por meio de um relacionamento amoroso, fica tudo fácil de entender. O eu lírico atribui a esse homem/mulher a causa da melhora das coisas em sua vida.
     É interessante que, antes de tê-la como sol, a pessoa era vista como qualquer outro cometa. Isso significa que, antes, o relacionamento era passageiro e despreocupado, como um relacionamento que poderia ser com qualquer outra pessoa. Mas, contrariando os especialistas (e aqui se incluem até mesmo aqueles amigos que gostam de analisar os relacionamentos alheios), percebe-se que não era um cometa qualquer, mas o seu segundo sol, que viera para dar rumo à sua vida. Era a pessoa certa dessa vez.
     Depois de explicada a primeira estrofe, não tenho muita coisa a falar. Acho que os primeiros são mesmo os versos mais complicados. Depois disso, tudo é uma confirmação do que já foi dito. Vejam só:

Não digo que não me surpreendi.

Antes que eu visse você disse,

e eu não pude acreditar.

Mas você pode ter certeza

de que o seu telefone irá tocar

em sua nova casa,

que abriga agora a trilha,

incluída nessa minha conversão.

     E ser a pessoa certa foi uma surpresa. Não era algo esperado. Mas, sendo, o eu lírico garante, fará valer a pena. Agora a pessoa está incluída na sua rota.

     O ponto curioso dessa estrofe fica por conta do "antes que eu visse você disse". É uma confirmação de que o eu lírico não acreditava que esse relacionamento fosse durar. Ele não enxergava futuro. Mas a pessoa com a qual se relacionava acaba demonstrando - ou até falando mesmo - que não era bem como ele imaginava. E ele se surpreende com isso.

Eu só queria te contar

que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia

e a vida que ardia sem explicação.

     E então os versos mais bonitinhos da música! O eu lírico apenas conta ao seu amor que enxergou dois sóis num mesmo dia. Percebe-se que esse segundo sol nada tem a ver com  Hercólubus, mas refere-se a ela, a essa pessoa que ilumina os dias do eu lírico, que realinhou suas órbitas e fez a vida arder e aquecer outra vez. E isso tudo, meus caros, não tem explicação, não tem, não tem.

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