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Interpretações, Significados e Análises de Letras de Músicas

O Sol em "Alegria, Alegria" - Parte I

     Muitas pessoas têm a música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, como um dos grandes símbolos contra a ditadura militar brasileira, bem como Roda Viva, de Chico Buarque, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré e muitas outras. No entanto, o que pouca gente sabe é que o eu lírico dessa canção não é tão favorável ao socialismo como se pensa.


     Vamos começar do começo.
     "Caminhando contra o vento", dizem muitos, faz referência ao ato de ir contra a ditadura, contra o vento, contra o capitalismo. Porém, ir contra o vento, bem como nadar contra a corrente e não dançar conforme a música, tem o significado de ir contra aquilo que todos estão fazendo. E, naqueles tempos, o que todos faziam girava em torno da ditadura militar, seja a favor ou contra ela. E o eu lírico estava fugindo desse universo de brigas, confrontos, imposições de ideais e afins.
     "Sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro". Esses versos nos expressam liberdade. "Sem lenço, sem documento" (uma frase que muitos associam ao uso de drogas em consequência das iniciais das palavras que a compõem - sLSD) nos passa a ideia de estar liberto de instrumentos meramente desnecessários fora de uma sociedade, como lenços e documentos. "No sol de quase dezembro" descreve o cenário e o estado de espírito do lugar por onde o eu lírico foge de tudo. Em dezembro se dá o ápice do verão no hemisfério sul. Imagine, então, a incidência forte do sol sobre essa parte da Terra. Não é muito fácil de aguentar muito tempo debaixo do sol de dezembro. Para o eu lírico, não era nada fácil aguentar a atmosfera de brigas e guerrilhas da ditadura militar por muito tempo.
     "Eu vou". Descrito como (caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento) e onde (no sol de quase dezembro), o eu lírico confirma por palavras que vai embora. Vai pra longe de todas as lutas entre socialismo e capitalismo.
     "O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em Cardinales bonitas (eu vou), em caras de presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot". O Sol neste ponto adquiri um sentido diferente do estabelecido na estrofe anterior. O Sol foi um jornal-escola socialista criado por Reynaldo Jardim em setembro de 1967, anos de ainda grande repressão militar. Sabendo desse fato, os versos descritos acima nos remetem às folhas de jornais, onde circulam notícias dos mais variados tipos, inclusive sobre os movimentos socialistas, suas guerrilhas (que logo nos remete ao Che Guevara), suas bandeiras e tudo mais.
     "O Sol nas bancas de revista me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia? Eu vou...". Enquanto os versos das estrofes anteriores nos mostravam uma descrição do jornal O Sol e de toda a imprensa socialista da época, os versos da quarta estrofe de Alegria, Alegria nos mostram a opinião do eu lírico sobre ela. Fica feliz, como não poderia deixar de ficar, pois, apesar de tudo, não é adepto ao que é ditado, imposto. Mas tem também preguiça, acomodação. Ora, o que sentia o eu lírico, era que ele não tinha nada em relação ao que estava acontecendo ali. Qual a razão em lutar, fazer protestos, brigas por um ideal?
     E segue retratando o jornal-escola O Sol como um referencial às mídias socialistas. "Por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos.". O eu lírico, nesse ponto, relata um pouco da utopia de sociedade perfeita que rodeavam os ideais socialistas naquela época. As fotos, os nomes, as cores das notícias dos jornais enchiam os jovens socialistas de esperança, de ilusão, de um amor pátrio que, embora dotado de boas e grandes intenções, não valia muito. E do valor mínimo desse amor o eu lírico sabia bem. Por isso, iria embora daquele meio. Por que não? Por que ficaria?
Importante: Este artigo tem uma continuação:O Sol em "Alegria, Alegria" - Parte II
Sobre a Autora:
Thamirys PereiraThamirys Pereira tem catorze anos, é aluna do curso integrado ao ensino médio de Controle Ambiental no IFPB e idealizadora do Blog Interpretação Pessoal.

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