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Interpretações, Significados e Análises de Letras de Músicas

O Sol em "Alegria, Alegria" - Parte II

Este artigo é um complemento do artigo O Sol em "Alegria, Alegria" - Parte I.
      Complementando o artigo anterior sobre a música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, podemos notar que muitos outros fatores nos indicam que o eu lírico dessa canção jamais teve uma posição política concreta em relação à ditadura. Os versos que dão continuidade à canção nos dão uma ideia da falta de compromisso partidário não só com a política, mas com todos os assuntos de sua vida.

     "Ela pensa em casamento e eu nunca mais fui à escola. Sem lenço, sem documento, eu vou...". Enquanto sua parceira tem a seriedade de um compromisso como o casamento em seus planos, o eu lírico nos remete ao desleixo, à indisciplina, ao desprendimento, ao desinteresse por tudo ao nos falar que nem mesmo tem ido à escola, pois, naturalmente, julga desnecessário. Ele quer viver livre de todos e de tudo que é julgado como fundamental.
     "Eu tomo uma coca-cola, ela pensa em casamento e uma canção me consola. Eu vou...". Nestes versos o eu lírico insiste em nos passar a sua imagem desprendida, consolado com uma canção pelo fato de ser pressionado a casar-se.
     "Por entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fome, sem telefone, no coração do Brasil.". Então, nos lembra outra vez do jornal "O Sol" e, de certa forma, o repudia, deixando claro que prefere abandonar a escola (lembrando que o jornal "O Sol" era um jornal-escola) e todos aqueles ideais revolucionários socialistas e, ao mesmo tempo, não pegar em fuzis para defender o desprezível regime militar, já que, agindo desse modo, deixaria fora de sua vida os problemas que rondavam essa briga. Completa então nos apresentando o lugar para onde vai, já que durante toda a música repete a frase: "eu vou": a Bahia (coração do Brasil), que associamos instintivamente à um lugar pacífico e bom de se viver.
     "Ela nem sabe, até pensei em cantar na televisão. O Sol é tão bonito, eu vou...". Neste ponto, o eu lírico, continuando a descrição de seu perfil, nos mostra a sua leviandade ao confessar que pensou em ser artista de televisão, o que para nós não significa muito, mas que, para a sociedade da época, era visto com desprezo. E faz com que a palavra sol adquira um terceiro significado numa única música, estando aqui com o seu sentido literal, fazendo referência ao sol da Bahia, para onde vai.
     "Sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos. Eu quero seguir vivendo, amor! Eu vou...". E, por fim, ele nos declara o motivo que tem para não incluir-se no socialismo ou no capitalismo militar: a preservação de sua vida. O eu lírico não estava nem um pouco disposto a dar a vida por nenhum ideal pregado. E, justificando seus motivos, nos repete: Por que não? Por que não?

Sobre a Autora:
Thamirys PereiraThamirys Pereira tem catorze anos, é aluna do curso integrado ao ensino médio de Controle Ambiental no IFPB e idealizadora do Blog Interpretação Pessoal.

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2 comentários:

  1. Meu deus Thamirys!! Sensacional! Impressionante vindo de uma garota de 14 anos. Tenho 18 e não cheguei nem perto da sua leitura. Vi diversas interpretacoes por ai, mas a sua é a unica plausivel. Parabéns!

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  2. Muito bom! Sempre achei que a música tivesse este sentido. Mas muitos a interpretaram apenas como uma oposição à ditadura militar. Parabéns!

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