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Balada para Giorgio Armani

     Pode-se pensar que em Balada para Giorgio Armani, logicamente, o homenageado de Zeca Baleiro tenha sido o estilista italiano conceituadíssimo, Giorgio Armani. No entanto, não é sobre Armani que fala essa linda balada ácida, mas sim sobre a tristeza que se esconde por trás de pessoas frívolas. O que não é de se estranhar, já que as canções de Zeca nunca foram lógicas, sempre foram obras de arte.


Balada Para Giorgio Armani

Giorgio, eu tive um sonho
risonho e terno.
Sonhei que eu era um anjo
elegante no inferno.

Giorgio, eu sinto medo
nessa longa estrada.
O medo é a moda
desta triste temporada.

Giorgio, tá tudo assim, nem sei,
tá tão estranho.
A cor desta estação é cinza,
como o céu de estanho.

Quando um dia enfim findar
este outono eterno,
quero que você me aqueça
com a sua coleção de inverno.

Giorgio, pobre de quem não tem.
Será que eu estou bem
na capa da revista?
     O eu lírico inicia a canção com um vocativo, onde chama Armani por seu primeiro nome, Giorgio, o que demonstra intimidade, já que, embora no Brasil seja um ato comum, seria algo estranho na Itália, caso não houvesse proximidade.
     No entanto, a intimidade com Armani não se dá pelo fato do eu lírico conhecê-lo, mas sim pelo fato de, como muitas pessoas, frequentemente apoiar-se em suas criações da moda para esconder a tristeza e o vazio de sua vida.
     Ao dizer que teve um sonho, no qual era um anjo elegante no inferno, o eu lírico acaba se contradizendo. Anjos não vão para o inferno. E a elegância não garante o ingresso no céu. Mas, para ela, sonhar com isso é até engraçado, é risonho, é terno, pois uma pessoa como ela, após a morte - se é que uma pessoa assim morre -, jamais irá para o inferno.
     Mas a verdade é que, intimamente, o eu lírico sabe. Sabe que, ainda que possua todos os bens materiais que seja possível o dinheiro lhe proporcionar, nunca poderá comprar emoções, sentimentos, sensações. E isso lhe causa medo. Mas afinal, quem não sente medo? "O medo é a moda desta triste temporada".
    Então, encontrando palavras para explicar, o eu lírico, finalmente, compara a monotonia de uma vida escassa de amores a uma temporada, onde o cinza, sem graça, reina.
     Porém, ainda que leve uma vida fútil, não associa isto às compras no shopping em plena segunda-feira. E pensa, ainda tem esperança de que é tudo uma fase que logo irá passar. E, quando o outono, a estação sem-graça, passar e chegar o inverno, a estação glamourosa e luxuosa, tudo voltará normal.
     E, tentando convencer a si mesmo de que não é um pobre coitado estatelado no chão, o eu lírico, como tantos, tenta disfarçar sua pobreza de espírito, lembrando aos outros a pobreza materiais de muitos, querendo, a todo custo, associar tal pobreza a uma vida miserável, onde o "ser" jamais valerá mais do que o "ter". Afinal, "pobre de quem não tem".
     "Será que eu estou bem na capa da revista?".
     O último verso da canção se auto-explica. Podemos, enfim, por meio dele, conhecer verdadeiramente o eu lírico.

Sobre a Autora:
Thamirys PereiraThamirys Pereira tem catorze anos, é aluna do curso integrado ao ensino médio de Controle Ambiental no IFPB e idealizadora do Blog Interpretação Pessoal.

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