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Gerações - Parte 3: Geração Sem "Ideologia"

     Chegamos, finalmente, aos anos 90. Depois de duas décadas, onde a Geração da Luz, dos anos 70, se mostrava sonhadora e idealista, e a Geração Coca-Cola, dos anos 80, se perdia em meio ao capitalismo e à corrupção dos valores, chegamos, enfim, à Geração Sem Ideologia.
     Nos anos 70, a música brasileira refletia os ideais dos nossos jovens sempre tão sonhadores; nos anos 80, a música (principalmente o rock) nacional mostrava ação, a ação de um povo que não se acomodava e queria  fazer do seu jeito; nos anos 90, o que percebemos é que toda ideologia foi corrompida e jogada no lixo. E a música que mais representa essa fase do nosso país é, sem dúvidas, Ideologia, de 1988, do Cazuza.

"Meu partido é um coração partido. E as ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos. Tão barato que eu nem acredito que aquele garoto, que ia mudar o mundo, frequenta agora as festas do Grand Monde."
     No início dos anos 80, os nossos jovens descobriram o capitalismo, e os ideais de um mundo melhor se transformaram em ideais de uma vida melhor. Não havia luta pelo coletivo, mas uma corrida irresponsável pelo individual. E os jovens têm sido assim desde a década de 90 até os dias de hoje.
     Em Ideologia, Cazuza representa um desses jovens. Um jovem que não se importa mais com a política do país onde vive, mas sim com os seus relacionamentos amorosos fracassados. Cazuza vive uma enorme nostalgia, por saber que, por uma festinha qualquer da alta sociedade francesa, acabou desistindo tão fácil do seu sonho, que é também o sonho de todo garoto: mudar o mundo.

"Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder. Ideologia: eu quero uma pra viver"
     A Geração Sem Ideologia poderia também ser chamada de Geração Sem Futuro. Ao buscar lucros a todo custo, muitos jovens acabavam por estragar definitivamente suas vidas. Acreditando em ideologias que lhe foram pregadas em vinte ou mais anos na escola, viviam de aparências e, cada vez mais, se afundavam nas drogas, na banalização do próprio corpo, nas rebeldias sem causas justas.
     A ideologia que vigorava naqueles tempos, entre aqueles jovens, era uma ideologia pregada há alguns anos pela ditadura militar, ainda que muitos não admitissem isso. Não eram ideais próprios, o que nos faz falta até hoje, pois ideologias são necessárias para se viver.

"Meu prazer, agora, é risco de vida. Meu "sex and drugs" não tem nenhum rock'n roll. Eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou, pois aquele garoto, que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro"
     Fica claro, que nesse trecho da canção, Cazuza fala muito sobre si mesmo. Mas também não deixa de retratar algo que era comum nos anos 90: a AIDS, as drogas, a liberação sexual, as crises de identidade.
     Os anos 90 foram os anos da decadência, não só da música brasileira (como dizem muitos, incluindo eu), mas também da decadência do brasileiro em si. A partir daí, parece que todo mundo perdeu a vergonha na cara ou que ninguém mais liga pra nada.
    Enfim, eu não me surpreendo de não ter encontrado uma boa música para representar os anos 2000.
Sobre a Autora:
Thamirys PereiraThamirys Pereira tem catorze anos, é aluna do curso integrado ao ensino médio de Controle Ambiental no IFPB e idealizadora do Blog Interpretação Pessoal.

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6 comentários:

  1. Abaixo todo o tipo de poder , o estado agora é o seu estado de espirito

    Viva o Anarkismo!

    Viva a Sociedade Alternativa!

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  2. marca realmente um declinio do rock e de seus ideais.
    pra retratar os anos 2000 poderia ser o poeta do skate chorão do Charlie Brown axo que é um dos ultimos rockeros que restam. retrataria que seria uma geração com os pés no chão mais ainda sem ideais.
    espero que nao tenha depois de 2010 porque agora o que a midia chama de rock é restart

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  3. Mas os anos 2000 não poderiam ser representados por uma boa música!

    Nao podem ser representados por boas músicas e quem vai comparar Ideologia e Geração Coca-Cola com as músicas que tocam por aí agora, se for pegar pelo nível não se achara músicas assim...

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    Respostas
    1. É realmente impossível, Guilherme. O que se tem de bom hoje nasceu no século passado: Zé Ramalho, Titãs, Paralamas, etc e tal.

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  4. Essa musica fala sobre os jovens da decada de 90 mas poderia facilmente se encaixar nos jovens de hoje. Essa geração 2000 PRINCIPALMENTE

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