Interpretação

Pessoal

Interpretações, Significados e Análises de Letras de Músicas

Rosa de Hiroshima

     Eu não sou, das pessoas, a que mais amo os ideais estadunidenses. Não sou do tipo que conhece a boa música "americana". Me detenho ao grunge do Nirvana, ao som do Dylan e a alguns cantores de country e folk. A culpa maior disso é a antipatia que criei perante a história desse país, e um dos acontecimentos que muito contribuiu para isso foi o bombardeamento às cidades de Hiroshima e Nagasaki.
     Também não sou do tipo que sabe tudo sobre a Segunda Guerra, tampouco estou aqui pra discutir história, políticas e governos. Mas quando, só em Hiroshima, estima-se que 80 mil civis morreram, algo tem de estar errado. É por números que, geralmente, se mede a força e a importância de um massacre, e 80 mil está longe de ser um número pequeno.
     No entanto, quando Vinícius de Morais escreveu Rosa de Hiroshima, mais tarde musicado por Gerson Conrad e interpretado pelos Secos & Molhados, não era dos mortos que ele estava falando. Pouco importa os mortos e o sofrimento que não tiveram tempo de sentir, quando ponderamos a dor de quem, não sei se felizmente ou infelizmente, sobreviveu.
     Não que eu ignore os mortos, não que eu não esteja dando a devida importância para as 80 mil pessoas que morreram inocentemente. Digo, porém, que sempre ignoramos os sobreviventes.
     Nas aulas de história, não nos ensinaram a pensar na dor de quem vive. Sejam as crianças, sejam as meninas, sejam as mulheres. É por isso, talvez, que Vinícius nos incita tanto a pensar neles. "Pensem nas crianças, mudas, telepáticas! Pensem nas meninas, cegas, inexatas! Pensem nas mulheres, rotas alteradas!" Pensem!
     A questão principal, creio eu, é nos remeter a essa dor, que a gente sabe que existiu, mas que não sente. Sabemos, sim, o que fizeram com o judeus na Alemanha Nazista; sabemos, sim, que duas bombas nucleares  foram lançadas no Japão e lamentamos muito por isso. Mas saber não nos sensibiliza, não nos conscientiza. É preciso que um poeta, O poeta, nos faça pensar, sentir, sentar e chorar essa dor - porque ela existe dentro de nós.
     É só, então, que pensamos na impotência de um povo perante a radiação, a dor, que irá ser passada de geração para geração. É quando pensamos no câncer que foi e causou uma aparentemente inofensiva nuvem em formato de rosa, e que não pode ser esquecido.

 

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14 comentários:

  1. Adorei o texto...sim, realmente nunca pensamos nos sobreviventes que se arrependem de terem sobrevivido. A morte merece atenção, mas ás vezes rouba a atenção de quem ainda pode ser salvo.

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    1. Oi, Raphael!
      Fico feliz que tenha gostado. Escrevi assim, curtinho, fiquei receosa.
      Obrigada!

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  2. É, grande texto. Parabéns.

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  3. Essa música é simplesmente poética. Linda letra e numa voz perfeita. O legal é essa colocação que a letra nos trás da Segunda Guerra, ironizando o "pense". Como se eles fizessem e não tivessem noção do quão grave são seus atos.

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    1. Exatamente isso, Dudu! Tirastes as palavras do meu teclado! ;D

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  4. copo vazio, de gilberto gil, é uma bela canção a ser analisada ;)

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    1. Oi, Yuri!
      Desculpe a demora em responder...
      Bem, eu não conheço essa. Mas eu darei, sim, uma olhadela e verei se podemos por aqui no blog.
      Sugestões são sempre bem-vindas!
      Muito obrigada!

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  5. Grande texto. Curto, mas do tipo que nos toca la no fundo e nos faz pensar. Concordo plenamente com a idéia. Pretendo postá-lo no meu blog se permitir. Claro com os devidos créditos. Abraço e parabéns!

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    1. Billy,
      Obrigada! Olha, se você copiar o texto, vamos ter os dois problemas de indexação com o Google. Sei que a intenção é boa (que nem pensas em fazer como já fizeram alguns e não me dar o crédito pelo texto), fico muito agradecida e feliz com sua intenção. Mas vamos evitar problemas, ok?
      A propósito, se quiser deixar o link do seu blog, pode. Fiquei curiosa!

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    2. Entendo perfeitamente seu ponto. Realmente tem muito disso por ai. Bom, o blog esta aqui..
      http://sequelamusical.blogspot.com.br/
      Ainda está no comecinho, mas tenho de começar de algum lugar né. Beijos *--*

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    3. Ah, mas uma coisa.. Se não for abusar, eu gostaria de saber se você não conhece alguém que esteja disposto a entrar para o quadro de autores do meu blog. Tocar ele sozinho ta dificil por falta de tempo e não quero que ele fique desatualizado. Ajudaria bastante mais um autor até para diversificar. Bem, claro que isso tudo se não for incômodo para você. Enfim, desde já agradeço. Beijos!

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    4. Rapaz, taí uma coisa que eu gostaria de saber! O Interpretação Pessoal anda super fraquinho exatamente por falta de tempo. Mas se eu ficar sabendo de alguém que se interesse, pode deixar que eu te aviso.
      Mas andei lendo o teu blog e te dou uma dica: tenha foco! Pertença a um nicho, crie público.
      Beijos, Billy!

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    5. Obrigado querida. Fico muito grato pela sua atenção e pelas valiosas dicas. Continuarei procurando por autores.. Enfim, sucessos e beijos *--*

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  6. Excelente visão concisa, consciente e precisa da autora. Como o assunto jamais se esgotará, até é isso de depreende do tema, é possível outros desdobramentos, como o meu ponto de vista que coincide e esbarra no seu Thamirys. Tenho um pequeno ensaio que perpassa por esta visão, oferecendo outros prismas sem se afastar do tema GUERRA. Parabéns, se desejar postar algo em meu blog http://cortinasdotempo.blogspot.com.br, como outros varios autores, será para mim uma honra. Abraços.

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