Imagem retirada do site oficial da Legião Urbana, pela EMI |
Há, exatamente, 18 anos e 9 dias foi interpretada brilhantemente essa canção que revela tanto sobre sua autora, Adriana Calcanhotto, e sobre, de alguma forma, Renato Russo.
Poderia ser esta uma interpretação como outra qualquer, mas o que a torna tão especial é o fato de ser jamais esquecida para quem a assistiu naquela quarta-feira.
Foi com a belíssima e intrigante letra de Esquadros que Adriana Calcanhotto, ao lado de Renato Russo, conquistou o público e fãs que até hoje a seguem.
Gosto bastante das letras inteligentes, como as da Legião Urbana, do Raul Seixas e do Cazuza. Mas essa música da Adriana Calcanhotto se destaca por dois motivos: é uma letra inteligente que foge do rock e, mesmo não sendo rock, não passa uma imagem de uma música antiga.
Nesse baião estilizado, diria os ouvidos atentos do meu pai, me prolongarei um pouco mais. Talvez faça isso pela beleza dos sentimentos que há nessa canção.
Letras como essa podem confundir muita gente. A primeira estrofe da canção, por exemplo, pode parecer sem sentido. Mas, com uma boa pesquisa sobre o assunto, tudo fica mais fácil.
Quando fala em cores de Almodóvar, Adriana refere-se, provavelmente, à homossexualidade de Pedro Almodóvar, cineasta, ator e argumentista espanhol, que tinha a sexualidade como tema principal da maioria de seus filmes.
Adriana, ainda na primeira estrofe, fala sobre cores de Frida Kahlo. Era esta uma pintora mexicana de grande talento. Em comum com Almodóvar tinha as polêmicas da sexualidade, já que tratava-se de uma bissexual assumida.
E, ainda em relação à primeira estrofe, uma frase interessante é "Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores". Esta frase pode, de alguma formar, representar a falta de informação sobre a homossexualidade e ou a bissexualidade naqueles tempos.
A segunda estrofe pode ser assimilada mais facilmente. O eu-lírico da música, que provavelmente é a própria Adriana Calcanhotto, confirma a falta de informação sobre sexualidade sugerida na primeira estrofe quando diz que caminha pelo escuro, ou seja, que não consegue enxergar nada à respeito do assunto. E cita ainda o seu irmão, como fonte de força e proteção para ela.
A terceira e a quarta estrofe revelam um pouco da personalidade do eu-lírico. E aproveitam para revelar que, ainda sendo homossexual, este mesmo eu-lírico (Adriana Calcanhotto), continua tendo sensibilidade, humanidade e todas as qualidades que teria caso fosse heterossexual.
No refrão, o eu-lírico procura entender o que se passa com ele mesmo, procura entender sua própria sexualidade, talvez sendo homossexual. E põe em questão, outra vez, o tabu que era a sexualidade naqueles tempos, quando diz ver tudo enquadrado, que pode ser associado à distante. O eu-lírico via tudo muito distante do que realmente deveria ser. Falar de homossexualide, bissexualidade ou mesmo sexualidade não era algo tão comum. E ainda não é.
Destaca-se no refrão a citação "Remoto Controle". Remoto é tudo aquilo que é antigo, que ainda precisa evoluir. Controle é uma força de poder exercida sobre algo ou alguma pessoa. Portanto, essa frase, dispondo de ironia, critica a sociedade hipócrita e conservadora ao extremo que até hoje não aceita totalmente as diferenças, como o homossexualismo ou o bissexualismo.
A sexta estrofe completa o contexto que diz que o eu-lírico procura entender o sentido da vida, procura entender o que passa com ele e com o mundo.
E a sétima estrofe, talvez a mais significativa da canção, fala da bissexualidade (trânsito entre dois lados), falando que gosta do sexo oposto (de um lado eu gosto de oposto), e do mesmo sexo. Diz não querer esconder seu modo, querer se expor. Mas então entra em cena um elemento até então não observado na canção: o medo, "Eu canto para quem?".
E o preconceito contra o eu-lírico torna-se evidente na nona estrofe. Ele continua andando pelo mundo, conhecendo o mundo, agindo com qualquer outra pessoa. Mas já não encontra mais os seus amigos, nem mesmo o seu "amor" e, por conseqüente, sua alegria. Todos o abandonaram, provavelmente, por não estarem dispostos a serem as pessoas que relacionavam-se com um homossexual ou bissexual.
Passei muito tempo tentando achar o real sentido de Esquadros, analisando a letra e pesquisando sobre a vida de Adriana Calcanhotto e até Almodóvar e Frida Kahlo. Entretanto, não foi a letra e as pesquisas que mais me inspiraram à essa interpretação.
Levei em consideração a verdade com a qual, no programa Por Acaso, Adriana Calcanhotto, homossexual assumida, e Renato Russo, bissexual assumido, cantaram essa canção.
Foi com a belíssima e intrigante letra de Esquadros que Adriana Calcanhotto, ao lado de Renato Russo, conquistou o público e fãs que até hoje a seguem.
Gosto bastante das letras inteligentes, como as da Legião Urbana, do Raul Seixas e do Cazuza. Mas essa música da Adriana Calcanhotto se destaca por dois motivos: é uma letra inteligente que foge do rock e, mesmo não sendo rock, não passa uma imagem de uma música antiga.
Nesse baião estilizado, diria os ouvidos atentos do meu pai, me prolongarei um pouco mais. Talvez faça isso pela beleza dos sentimentos que há nessa canção.
Esquadros
Eu ando pelo mundo
prestando atenção em cores
que eu não sei o nome:
cores de Almodóvar,
cores de Frida Kahlo,
cores!
Passeio pelo escuro,
eu presto muita atenção
no que o meu irmão ouve.
E, como uma segunda pele,
um calo, uma casca,
uma cápsula protetora.
Ai, eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa,
filtrar seus graus.
Eu ando pelo mundo
divertindo gente,
chorando ao telefone,
e vendo doer a fome
nos meninos que têm fome.
Pela janela do quarto,
pela janela do carro,
pela tela, pela janela...
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado.
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo.
E os automóveis correm,
para quê?
As crianças correm,
para onde?
Transito entre dois lados.
De um lado, eu gosto de opostos.
Exponho o meu modo,
me mostro.
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto,
pela janela do carro,
pela tela, pela janela...
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado.
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo.
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei,
não tem ninguém ao lado.
Pela janela do quarto,
pela janela do carro,
pela tela, pela janela...
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado.
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo.
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei,
não tem ninguém ao lado.
Pela janela do quarto,
pela janela do carro,
pela tela, pela janela...
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado.
Remoto controle.
Letras como essa podem confundir muita gente. A primeira estrofe da canção, por exemplo, pode parecer sem sentido. Mas, com uma boa pesquisa sobre o assunto, tudo fica mais fácil.
Quando fala em cores de Almodóvar, Adriana refere-se, provavelmente, à homossexualidade de Pedro Almodóvar, cineasta, ator e argumentista espanhol, que tinha a sexualidade como tema principal da maioria de seus filmes.
Adriana, ainda na primeira estrofe, fala sobre cores de Frida Kahlo. Era esta uma pintora mexicana de grande talento. Em comum com Almodóvar tinha as polêmicas da sexualidade, já que tratava-se de uma bissexual assumida.
E, ainda em relação à primeira estrofe, uma frase interessante é "Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores". Esta frase pode, de alguma formar, representar a falta de informação sobre a homossexualidade e ou a bissexualidade naqueles tempos.
A segunda estrofe pode ser assimilada mais facilmente. O eu-lírico da música, que provavelmente é a própria Adriana Calcanhotto, confirma a falta de informação sobre sexualidade sugerida na primeira estrofe quando diz que caminha pelo escuro, ou seja, que não consegue enxergar nada à respeito do assunto. E cita ainda o seu irmão, como fonte de força e proteção para ela.
A terceira e a quarta estrofe revelam um pouco da personalidade do eu-lírico. E aproveitam para revelar que, ainda sendo homossexual, este mesmo eu-lírico (Adriana Calcanhotto), continua tendo sensibilidade, humanidade e todas as qualidades que teria caso fosse heterossexual.
No refrão, o eu-lírico procura entender o que se passa com ele mesmo, procura entender sua própria sexualidade, talvez sendo homossexual. E põe em questão, outra vez, o tabu que era a sexualidade naqueles tempos, quando diz ver tudo enquadrado, que pode ser associado à distante. O eu-lírico via tudo muito distante do que realmente deveria ser. Falar de homossexualide, bissexualidade ou mesmo sexualidade não era algo tão comum. E ainda não é.
Destaca-se no refrão a citação "Remoto Controle". Remoto é tudo aquilo que é antigo, que ainda precisa evoluir. Controle é uma força de poder exercida sobre algo ou alguma pessoa. Portanto, essa frase, dispondo de ironia, critica a sociedade hipócrita e conservadora ao extremo que até hoje não aceita totalmente as diferenças, como o homossexualismo ou o bissexualismo.
A sexta estrofe completa o contexto que diz que o eu-lírico procura entender o sentido da vida, procura entender o que passa com ele e com o mundo.
E a sétima estrofe, talvez a mais significativa da canção, fala da bissexualidade (trânsito entre dois lados), falando que gosta do sexo oposto (de um lado eu gosto de oposto), e do mesmo sexo. Diz não querer esconder seu modo, querer se expor. Mas então entra em cena um elemento até então não observado na canção: o medo, "Eu canto para quem?".
E o preconceito contra o eu-lírico torna-se evidente na nona estrofe. Ele continua andando pelo mundo, conhecendo o mundo, agindo com qualquer outra pessoa. Mas já não encontra mais os seus amigos, nem mesmo o seu "amor" e, por conseqüente, sua alegria. Todos o abandonaram, provavelmente, por não estarem dispostos a serem as pessoas que relacionavam-se com um homossexual ou bissexual.
Passei muito tempo tentando achar o real sentido de Esquadros, analisando a letra e pesquisando sobre a vida de Adriana Calcanhotto e até Almodóvar e Frida Kahlo. Entretanto, não foi a letra e as pesquisas que mais me inspiraram à essa interpretação.
Levei em consideração a verdade com a qual, no programa Por Acaso, Adriana Calcanhotto, homossexual assumida, e Renato Russo, bissexual assumido, cantaram essa canção.
Oi Thamirys, tudo bom? Adorei sua interpretação da música, ficou muito bem elaborada, e obrigado por seu comentário no meu blog. O que mais me surpreende é o fato de vc ter apenas 14 anos e escrever tão bem assim. Vc parece ser uma garota muito madura e consciente, apesar da pouca idade. E tem um gosto musical excelente, a começar por Legião Urbana, que indiscutivelmente, foi a melhor banda brasileira de todos os tempos.
ResponderExcluirVc tem msn? Gostaria de conversar com vc, trocar algumas idéias sobre música e literatura.
Adiciona gian.morelato@hotmail.com
Beijos
Desculpe-me a desconfiança, mas se é vc mesma que faz as interpretações... parabéns, eu adoro essa música da Adriana, e confesso que apesar de ter pesquisado sobre a música... não tinha avançado muito... e o melhor de tudo foi ver o Renato cantando com ela... nossa maravilhos... Parabéns.
ResponderExcluirNat
thamiris? é thamiris?
ResponderExcluirtd bem, eu sou o joelson, fã de legião desde muleque (hj tenho 26). Li todos os livros, conheço tds as musicas, shows, história, essa coisa bem tiete.
adorei sua interpretação dessa que é uma das mais belas composiçoes musicais.
tenho uma proposta, que também é um desafiozinho:
uma das letras que eu julgo mais complexa da legião é a ultima faixa do disco "A Tempestade". chama-se "O Livro dos Dias".
tenho minha interpretação dessa música, proponho que vc formule a sua p que possamos troca-la. Em seguida vc pode sugerir uma troca de interpretação. Que Vc axa?
meu email é emaildojoelson@yahoo.com.br, me responde que eu passo meu orkut. fico no aguardo.
força sempre
mt boooooooom!
ResponderExcluirAdorei a sua interpretação!!!
ResponderExcluirÓtimo texto. Mas lamentavelmente não é essa abordagem que a cantora faz. A cantora fala muito de seu irmão especial, fala de prisões, de sofrimento, panoptico etc, etc, etc... Mas chegou perto.
ResponderExcluirAss: Bruno Victor... Instagram: ohbruno_
Exato! Não tem nada a ver com a sexualidade ou outra coisa.
ExcluirFui pesquisar sobre a Frida e Almodôvar e matei a charada. Mt interessante!! Eta povo inteligente, queria compor assim!!!
ResponderExcluirParabéns pela interpretação, maravilhosa! Maravilhosa música adooooroo!!!
Que viagem! A subjetividade humana realmente não conhece limites.
ResponderExcluirLinda interpretação mas, na realidade, Adriana homenageou seu irmão autista em seu mundo paralelo a nosso. É isso! Boa madruga e boa sorte! ;)
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