Salve a Legião | Por Enquanto | Cássia Eller

     Passei muito tempo sem escrever nada aqui no Blog: sem postagens de texto, imagens, vídeos ou qualquer alteração no design ou coisa do tipo. E, para recuperar o tempo perdido, decidi recomeçar com uma música do Renato Russo, interpretada com brilhantismo também por Zélia Duncan e Cássia Eller: Por Enquanto.
     Não é essa uma canção tão difícil de ser entendida. Basta apenas prestar bastante atenção em sua letra e, com certeza, encontrará um significado bonito para ela. Mas, apesar de simples, como falei, descobre-se lindos significados que, obviamente, diz mais sobre quem interpreta do que sobre a música em si.

     Essa canção, uma das quais mais gosto de ouvir e cantar, na minha mais humilde opinião, retrata o desgastar com o tempo de um relacionamento. E, usando um pouco de psicologia, diria até que um certo amadurecimento do eu lírico.
      Mudar as estações, quero dizer as estações do ano, significa passar o tempo. As horas correm, viram dias, que viram meses, que viram anos e, num ano, há quatro estações. Talvez o tempo idealizado na música não seja exatamente um ano, ao contrário, parece-me ser bem mais que isso, mas quando refiro-me a um ano, refiro-me a um tempo muito longo.
     O mais engraçado é que, falando em Renato Russo, criador dessa linda obra, parece até clichê falar em quatro estações, estações do ano, as outras estações e atribuir o sentido de tempo à essas expressões, levando em consideração que é tão comum vê-las em músicas e CDs da legião Urbana. Mas é realmente esse o sentido que vejo.
     E quando, em um longo período de tempo, nada muda, suponho que Renato Russo falava de monotonia, de uma rotina desgastante que, com toda a certeza do mundo, acaba corroendo sem dó ou piedade qualquer relacionamento, seja ele amoroso ou não.
     E, para confirmar a genealidade de seu compositor (e seu dom de lidar com as palavras), o eu lírico da canção diz que percebe que alguma coisa aconteceu, que algo está diferente. Mas esse mesmo eu lírico dizia antes que nada mudou! O fato é que "mudar" e "estar diferente" não são sinônimos nesse caso. Os sentimentos estão diferentes, justamente por nada ter mudado. Aquilo que antes poderia ser amor, hoje já não se sabe o que é.
     Outro fato importante a se considerar é a ilusão e a utopia que as paixões, sejam repentinas ou não, causam num ser humano. A sensação de que tudo durará invariavelmente e eternamente parece, de certo modo, inevitável. Mas o tempo passa e essa sensação acaba diminuindo e dando lugar a uma realidade cruel: "o pra sempre, sempre acaba".
     E apesar de, depois de um certo tempo, não haver mais o mesmo sentimento que existia há esse mesmo certo tempo, nunca alguém conseguirá apagar uma página (ou um capítulo) de sua vida. É assim com o eu lírico e, mais que isso, ele mesmo não deseja apagar as palavras que escreveu no livro de sua vida, pois, apesar de não ser o mesmo, ainda há um sentimento de companheirismo, amizade e quiçá de amor: diferente, mas ainda amor.
     E, por haver ainda resquícios de amor, o eu lírico ainda pensa na tal pessoal com a qual se relacionava e se sente bem ao estar ao seu lado, ao ouvir sua voz, ao ver seu sorriso, com a sua companhia. Não vê motivos para parar de ter esse relacionamento (que já posso considerar, com toda essa interpretação, como amoroso), mas então entra o tal amadurecimento que falei no início do texto.
      Não existe mais o amor entre homem e mulher, não há a afetividade de um casal e assim, mesmo com tantos motivos para não desistir desse relacionamento ou tentar melhorá-lo de alguma forma, chegou a hora de terminar e voltar pra casa, voltar ao que era antes de tudo.
     Por toda essa interpretação, apesar de achar a versão da Cássia Eller muito mais atual e simpática, prefiro a originalidade do Renato Russo, pois nessa versão consigo enxergar facilmente o significado da canção e perceber que a melodia é tão importante quanto a letra em si para procurar-se o que o autor quis passar.

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